sexta-feira, 22 de maio de 2015

Diário de uma grávida em greve


O que vou relatar hoje é algo que eu nunca esperava passar e ainda compartilhar aqui. Mas como o blog conta minha trajetória como mãe, estaria escondendo isso de vocês, porque esse foi um momento marcante para mim e para a história do meu estado.

Sempre que me imaginava o final da minha gestação, me via de barrigão andando pelos corredores do colégio, pernas cansadas de tanto ficar sentada em frente a um computador e ter de solicitar varias licenças médicas para ter um descanso. 

Mas mais uma vez me engano, e depois de 9 anos concursada vivenciei coisas que não esperava. Quando prestamos concurso esperamos ter um emprego de estabilidade, salário garantido, plano de carreira e sem preocupações com a aposentadoria. Mas desde janeiro vi que não é assim, na verdade a uns dois anos que percebi que a coisa não era simples, o que adianta estudar quatro anos, se demoram meses para pagar a sua promoção, e quando pagam deixa os retroativos para um depois distante? E não para por ai, ter seus direitos que anteriores a você lutaram por anos para conseguir, ser riscado e cortado num piscar de olho. E agora estar escrevendo este post sem saber se no final do mês irei receber o meu salário é frustante, triste, desanimador e ainda por cima estando grávida sentindo tudo isso. Não, não queria esse sentimento não.

Estar em casa teve seu lado bom para uma grávida, pude planejar o quarto com calma, pude lavar e passar as roupinhas sem preocupação com o tempo, pode curtir por mais tempo cada chutinho da Mahara e outras coisas que acabamos fazendo correndo por falta de tempo. Mas mesmo assim ainda me sinto como uma fura greve, me sinto traidora porque enquanto seus colegas estão levando bomba, bala de borracha e sendo agredidos pelos policiais por ordem de um des-governador, eu estou aqui assistindo a tudo isso. 

Mas meu apoio eles tem, e sei que eles sabem se fosse em outro momento eu estaria lá. Em 30 de agosto de 1988 eu ainda era uma criança, recém completados dois aninhos de idade, não vi nada e não lembro de nada. Mas ficou marcado na história, e cresci ouvindo a história de um governador que soltou os cavalos acima dos professores que apenas lutavam por seus direitos.  Mas 29 de abril de 2015 não estive presencialmente, mas fiquei em frente a televisão, com o celular na mão, chorando por cada professor e orando pelos meus colegas, para que todos voltassem bem e salvo. Alguns voltaram feridos, mas todos feridos na alma, voltaram assustados com o que vivenciaram, mas mais forte e unidos como nunca foram antes. E desta vez não teve cavalos, mas teve cachorros, bombas, gás lacrimogênio, bala de borracha, spray de pimenta e jatos de água contra professores sem armas alguma para defender.



E mesmo depois de tudo isso, ainda temos que ouvir certas pessoas ignorantes nos pedindo para largamos o concurso e arranjar outro emprego, ou que apenas queremos prejudicar os alunos estando em greve e ainda temos a ameaça de que o nosso salário vai ter desconto, estamos firme na greve.

E um dia minha filha vai voltar da escola, contando que aprendeu sobre o 29 de abril, e eu vou poder contar para ela como realmente foi e mostrar que mesmo estando grávida dela eu não desisti dos meus direitos e lutei por eles, mesmo que não foi da forma que gostaria.

Desculpe esse post confuso de desabafo de uma grávida que ultimamente anda com os hormônios bem alterados. E essa é uma experiencia que não desejo para nenhuma grávida, ou melhor para ninguém néh.

Fotos retiradas no facebook de colegas.
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4 comentários:

  1. No dia que vi os protestos e a reação confesso que também chorei, lembrei de vc e pensei como poderia estar se sentindo.

    Estou firme com vc, como futura professora me entristece muito ver isso...

    Bjoo

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  2. Avante na luta... o país precisa de professores assim, corajosos e destemidos... o país passa por um momento difícil, eu trabalho como contrato temporário e já está no meio do ano e não me chamaram... isso pq o governador está prendendo as carências... é revoltante!
    Bjos

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  3. Terrível não é?

    Mas não desista!

    Bjus

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  4. Own Je que emocionante esse post, uma crueldade e desumanidade isso que estao passando..

    Beijo
    ;)
    www.umalindapromessa.com

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